O DESCOMPASSO ENTRE AS NAÇÕES – DE QUE FORMA A CRISE DOS ANOS 1970 AFETOU A RELAÇÃO ENTRE AS NAÇÕES? (2º PARTE)

De que forma a crise dos anos 1970 afetou a relação entre as nações?

Durante os anos 1960 os países europeus ocidentais (particularmente a Alemanha) e o Japão alcançaram ou ultrapassaram os Estados Unidos em vários campos da economia, enquanto este país tinha crescentes dificuldades em desempenhar o papel de polícia do "mundo livre".

Relações entre as nações

A sobrecarga gerada pelas guerras periféricas (Vietnã e crise cubana) sobre a economia americana, contudo, era sintoma de um problema estrutural: a crise do modelo de acumulação do pós-guerra, assentado no paradigma fordista-keynesiano modelo baseado na produção em grande escala em linha de montagem, apoiada pela intervenção do Estado em apoio à economia e à distribuição de renda).

O capitalismo baseado em indústrias motrizes, como os automóveis e outros bens de consumo durável, encontra seus limites, por razões como a rigidez produzida pela exigência político-ideológica de garantir pleno emprego e conceder aumentos salariais reais continuamente. Isto conduzia ao declínio da taxa de crescimento que atingia seus limites na sociedade de consumo (como ficou claro na Revolução de 1968) e, logo, da de lucros.

Crise no sistema capitalista

Além disso, o tipo de indústrias em que se baseava o american way of life requeria investimentos de porte cada vez maior, tais como a urbanização e a construção de infra-estruturas rodoviárias e de serviços.

Além de considerarmos o enorme desperdício, deve-se levar em conta também que a divisão mundial do trabalho então existente se tornava um entrave para o desenvolvimento deste modelo.

Para enfrentar esse conjunto de problemas, os EUA desencadearam uma contra-ofensiva estratégica, (1) no campo político-ideológico, (2) no âmbito diplomático-militar e (3) na esfera econômico-financeiro-tecnológica.

Esgotamento dos recursos naturais

A preparação ideológica partiu do Clube de Roma que anunciava o iminente esgotamento dos recursos naturais e das formas de energia não-renováveis, e denunciava o crescimento populacional e a destruição do meio ambiente. Era a defesa do crescimento zero, que legitimava o controle demográfico e os movimentos ecológicos, elementos necessários para uma política ampla de reconversão produtiva.

A dimensão diplomático-militar dessa estratégia teve como elemento central a aliança Washington-Pequim e o desengajamento parcial americano em questões locais de segurança, repassando tarefas militares locais a aliados regionais.

No âmbito das questões econômicas, Nixon decretou, em 1971, o fim da paridade do dólar em relação ao ouro e adotou medidas comerciais protecionistas (fim do sistema de Bretton Woods), com o intuito de recuperar a competitividade da economia americana. Ao mesmo tempo, iniciou nesse ano uma política de aumentos reais escalonados no preço do petróleo.

Fim da paridade Dólar Ouro

Em 1973, na esteira da guerra de Yom Kippur, os países árabes quadruplicaram o preço do petróleo, além de decretarem um embargo contra os países que apoiaram Israel.

A Europa Ocidental e o Japão (não produtoras de combustíveis) foram os maiores afetados já que os EUA importavam menos de 10% do Oriente Médio.

Na Europa cada país teve de buscar individualmente fornecedores, o que ameaçou o processo de integração da região. É importante salientar também que a maioria dos membros da OPEP eram aliados dos EUA e que este país também tinha ascendência sobre as empresas transnacionais do setor.

Alta do petróleo prejudica alguns e beneficia outros

Além disso, alguns países do 3º mundo se beneficiariam em certa medida com os aumentos de preço, o que os qualificaria para desempenhar o papel de potências locais, com as quais os EUA dividiriam as tarefas.

Alguns desses países seriam beneficiados com o acúmulo de recursos para a sua industrialização, o que se reforçaria com a transferência de industriais para a periferia.

A aliança com a China visava claramente a objetivos político-diplomáticos: reduzir os custos da contenção da URSS e das revoluções sociais do Terceiro Mundo.

Simultaneamente, oferecia-se ao Kremlin a possibilidade de manter-se a détente. Moscou era estimulada a vender no mercado mundial petróleo e matérias-primas, sobretudo minerais, e a adquirir tecnologia, receber capitais e produtos de consumo.

Os soviéticos entram no jogo do comercio internacional

Ora, por esta via os soviéticos aos poucos se abriam e se vinculavam à economia internacional, justamente num momento em que esta articulara um salto qualitativo.

A reorganização da economia mundial e do seu próprio modelo demandava, por outro lado, um enorme volume de capital, que no primeiro momento só poderia ser obtido através da transferência e concentração de recursos em determinados pólos. Nesse sentido, pode-se observar que o Terceiro Mundo passou cada vez mais a financiar o novo salto econômico do Norte.

Um abraço e até o próximo post!

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