O DESCOMPASSO ENTRE AS NAÇÕES – COMO SURGIU A DESEGUALDADE ENTRE AS NAÇÕES? (1º PARTE)

Começo uma série de postagens referente ao processo de globalização, sua importância e impactos no desenvolvimento do turismo no mundo.

Esta série será um resumo sucinto do livro “O Descompasso Entre as Nações” do autor Paulo Fagundes Vizentini. Livro que trata de forma singular os eventos ocorridos no mundo nos últimos séculos.

Mapa Mundi e suas fronteiras

Espero que gostem da nova série de artigos do site Turismo Criativo.

Como surgiu a desigualdade entre as nações?

A construção de sistemas internacionais estruturados em escala mundial, dotados de continuidade histórica e de um caráter progressivo, se iniciou há quinhentos anos, com a revolução comercial que caracterizou a expansão européia e a construção do capitalismo.

No século XV, o mundo era ainda dividido em pólos autônomos. Podemos mencionar os astecas, os maias, os incas, a cristandade na Europa Ocidental, o mundo árabe islâmico, a Pérsia, a China (o pólo mais desenvolvido da época), o Japão, a Índia e os impérios da África Negra.

Domínio territorial do Império Asteca

Ainda antes do surgimento do capitalismo, as crises econômicas, que produzem novas relações e acomodações após ondas de instabilidade, não eram regulares. E eram crises de escassez, e não de superprodução, como as que vem ocorrendo desde o século XV.

Desde então, sob impulso do nascente capitalismo, os reinos europeus (liderados por Portugal, Espanha, Holanda e França) iniciaram a expansão comercial.

Este sistema era baseado no comércio, na formação de um mercado mundial e no domínio dos grandes espaços oceânicos, e a queda ou declínio de cada uma dessas lideranças não produziu o colapso do sistema. Pelo contrário, cada uma delas foi sucedida por outra mais capacitada, com o sistema se tornando ainda mais complexo e integrado, como assinala Giovanni Arrighi.

O capitalismo segue seu curso

A história contemporânea, que então se iniciou, tem sido marcada pela sucessão de sistemas mundiais intercalados por fases de transição e configuração de novas lideranças. Estas, por sua vez, se encontram apoiadas nos paradigmas econômicos, sociais, tecnológicos de cada modelo de produção e acumulação.

Assim, desde 1776 (ano da revolução americana e da publicação de A Riqueza das Nações) a 1890, a Pax Britânica regada pela Revolução Industrial e pelo liberalismo. Mas o advento da Segunda Revolução Industrial, desde os anos 1870, bem como de novos países competidores e do paradigma fordista levam ao desgaste da hegemonia inglesa no final do século XIX.

Extensão do Império Britânico durante a Pax Britânica

Em 1890, com o fim da diplomacia bismarckiana e o lançamento da Weltpolitik alemã, inicia-se uma fase de crise e transição, marcada pelo acirramento do imperialismo, pela I guerra, pela revolução soviética, pela depressão de 1929, pela emergência do fascismo e pela II guerra.

Durante este meio século, ainda não havia uma hegemonia definida e as potências da época lutaram pela supremacia mundial e a implementação de seus projetos antagônicos. A “força profunda” principal era a contradição entre o fordismo de alta produtividade e os mercados e as sociedades ainda organizados segundo as premissas liberais, no quadro de uma aguda competição entre potências desenvolvidas (Inglaterra, EUA e França) e potências tardiamente industrializadas (Alemanha, Japão e Itália).

Fordismo e seu modelo de produção

É nos marcos da superação da grande crise e da Segunda Guerra Mundial que o fordismo passou a ser regulado pelo keynesianismo, dando então suporte a uma ordem internacional estável, liderada pelos EUA. A Guerra Fria constituiu uma era de hegemonia norte-americana (Pax Americana).

Entretanto, desde os anos 1970, com a articulação da terceira Revolução Industrial (RCT) e seu paradigma científico-tecnológico, inicia-se o processo de desgaste da hegemonia norte-americana. Este fenômeno produz uma profunda reformulação internacional, cujo marco referencial é a desintegração do campo soviético.

Queda do Muro de Berlim marca o fim da Guerra Fria

Finalmente, o sistema internacional pós-Guerra Fria, marcado pela globalização e formação dos blocos regionais, bem como pela instabilidade estrutural que acompanha a competição econômica e o reordenamento político internacional dos anos 1990, sinaliza o início de uma nova fase de crise e transição, na luta pelo estabelecimento de uma nova ordem mundial.

Nela, configura-se a emergência da Ásia Oriental, particularmente da China, como novo pólo desafiante à liderança anglo-saxônica. Também a base deste período constitui na busca de estruturas que permitam um desenvolvimento estável, o que passa pelo domínio e acomodação dos paradigmas da Revolução Científico-Tecnológico, que anda implodindo as estruturas pré-existentes.

Yuan Renminbi a moeda chinesa

Em relação ao século XX, o primeiro desafio à ordem mundial anglo-saxônica deu-se a partir de dentro do próprio sistema, quando a Alemanha, primeiro isoladamente e depois acompanhada pelo Japão e Itália, tentou obter seu lugar dentro da ordem capitalista, o que resultou em duas Guerras Mundiais. Um segundo desafio partiu de fora do sistema, com o socialismo soviético tentando criar uma alternativa à ordem existente, trazendo como conseqüência a Guerra Fria.

O terceiro desafio, hoje em curso, emergiu na Ásia Oriental, sobretudo através da China, constituindo um fenômeno misto, economicamente dentro da ordem capitalista, mas politicamente exterior a ela, devido aos recursos de poder e ao regime socialista deste país.

A China é hoje o maior desafio a uma possível manutenção da Pax Americana

As turbulências financeiras na Ásia Oriental e a guerra na Ásia Central representam, nesse sentido, o primeiro embate do novo conflito em torno da ordem mundial, não necessariamente um "choque de civilizações".

Assim, os anos 1990 e o início do século XXI significam também o princípio de uma época de crise e transição rumo a um novo período histórico, com o declínio do ciclo de expansão ocidental, iniciado há cinco séculos. Os atentados de 11/09 passam a constituir o marco inicial deste novo período histórico, sem ainda contornos claros.

11 de Setembro de 2001 é o marco de uma nova era geopolítica

Referenciais Bibliográficas

VIZENTINI, Paulo Fagundes. O Descompasso Entre as Nações. In: Os Porquês da Desordem Mundial: Mestres Explicam a Globalização. Sader, Emir (Org). Rio de Janeiro: Record, 2004. 163 p.

Um abraço e até o próximo post!

O DESCOMPASSO ENTRE AS NAÇÕES – COMO SURGIU A DESEGUALDADE ENTRE AS NAÇÕES? (1º PARTE) O DESCOMPASSO ENTRE AS NAÇÕES – COMO SURGIU A DESEGUALDADE ENTRE AS NAÇÕES? (1º PARTE) Reviewed by Luiz Macedo on março 09, 2010 Rating: 5

Nenhum comentário:

Os comentários passam por um sistema de moderação, ou seja, eles são lidos por nós antes de serem publicados.
Não serão aprovados os comentários:
- não relacionados ao tema do post;
- com propagandas (spam);
- com link para divulgar seu blog;
- com palavrões ou ofensas a pessoas e marcas;

Tecnologia do Blogger.