TURISMO NO ESPAÇO RURAL – PARTE FINAL

Turismo e Paisagem

Conforme mencionado anteriormente, o turismo no meio rural trabalha diretamente com a comercialização dos elementos naturais, onde estes figuram como principais produtos turísticos e podem se transformar em um diferencial fundamental para o fomento da atividade.

Paisagens do meio rural

Nesse sentido, os elementos naturais somados às atividades produtivas compõem uma paisagem que adquire poder de atração. Por paisagem entende-se:

Uma qualidade estética que os diferentes elementos de um espaço físico adquirem apenas quando o homem surge como observador, animado de uma atitude contemplativa dirigida a captar suas propriedades externas, seu aspecto, seu caráter e outras particularidades que permitam apreciar sua beleza ou feiúra. (BOULLÓN, 2002, p. 120).

Yázigi (2002) pondera também que a ciência de vender as paisagens turísticas sem um planejamento leva à degradação. No Brasil, a degradação da paisagem ocorre desde o início da colonização, com a exploração do pau-brasil e, depois, com a cultura da cana-de-açúcar, com a mineração e com o café. Por outro lado, o turismo começa a ser visto como um aliado na conservação de locais de recursos naturais frágeis, em locais de grande beleza cênica ou em locais com ecossistemas de relevante interesse ecológico, como a solução para conservar seus recursos naturais e ainda obter retornos econômicos.

Triângulo da sustentabilidade

Tal particularidade evidência a importância do planejamento turístico como instrumento de direcionamento da atividade, norteando e prevendo os impactos antes de efetivá-los, o que resultará em uma maior durabilidade da paisagem enquanto produto turístico, além de atender aos desígnios do turismo sustentável (YÁZIGI, 2002). É importante ressaltar que o município tem uma profunda importância na preservação da paisagem local e no diagnóstico dos problemas, onde as entidades político-administrativas locais possuem, em seu benefício, uma legislação que lhes garante autonomia para controlar o uso e ocupação do solo (YÁZIGI, 2002).

Turismo e Desenvolvimento Sustentável

Na tentativa de superação do modelo de desenvolvimento regido pela lógica do capital, que apresenta aspectos segregadores impactando negativamente no espaço explorado, surgiu a proposta da sustentabilidade, que foi desenvolvida pela Comissão Brundtland*, como sendo:

Aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem a suas próprias necessidades. Ele contém dois conceitos-chave: o conceito de necessidades, sobretudo as necessidades essenciais dos pobres do mundo, que devem receber a máxima prioridade e; a noção das limitações que o estágio da tecnologia e da organização social impõe ao meio ambiente, impedindo-o de atender às necessidades presentes e futuras. (NOSSO FUTURO COMUM, 1991, p. 46).

Desenvolvimento sustentável

Aplicado ao turismo, o princípio da sustentabilidade é definido como algo que vai além da dimensão ecológica, pois compreende também a melhoria das condições econômicas e sociais das populações locais, além de garantir a satisfação dos turistas. A Organização Mundial do Turismo afirma que conceito de desenvolvimento sustentável é muito amplo, uma vez que o mesmo se relaciona com as mais distintas das áreas, sendo as principais particularidades;

· Melhorar a qualidade de vida da população local, das pessoas que vivem e trabalham no local turístico;

· Prover experiência de melhor qualidade para o visitante;

· Manter a qualidade do meio ambiente da qual depende a população local e os visitantes;

· A efetivação de aumento dos níveis de rentabilidade econômica da atividade turística para os residentes locais;

· Assegurar a obtenção de lucros pelos empresários turísticos. Em suma, o negocio turístico têm que ser rentável, caso contrário, os empresários esquecerão o compromisso de sustentabilidade e o equilíbrio será alterado. (OMT, 2001, p. 246).

Em síntese, conforme SACHS (1993, p.37) o turismo sustentável, atualmente está fundamentado nos princípios de sustentabilidade ecológica, social, cultural, econômica e espacial. A sensibilidade deve alcançar os empresários do turismo, para que assim a visão estreita e imediatista do lucro, a curto prazo, possa dar espaço o planejamento a longo prazo, com a certeza de que o respeito à natureza é essencial para o sucesso e continuação do negócio empreendido.

Fernando de Noronha: Exemplo de turismo sustentável

Os impactos positivos ou negativos, de ordem econômica, espacial, cultural e social e, portanto, ambientais podem apresentar-se em diferentes intensidades, de acordo com o porte da ação e da intervenção no meio. Sendo o planejamento turístico uma alternativa de minimização dos impactos negativos bem como a otimização dos positivos (BENI, 2001).

Nesse sentido, o turismo rural não representa a solução para os problemas do campo, trata-se, entretanto, de uma opção empresarial, que poderá trazer efeitos positivos, conseguindo contrabalancear uma eventual desintegração das atividades tradicionais (RUSCHMANN, 2004). A mesma autora menciona que essa atividade poderá proporcionar ao meio rural uma alternativa para promoção de divisas, uma vez que as atividades agropastoris encontram-se, em acentuado declínio. O futuro e a sustentabilidade dessa atividade dependem da qualidade dos produtos oferecidos, pela promoção dos valores locais e da estabilidade da autenticidade cultural e da proteção ambiental.

Turismo Rural: Alternativa para a promoção de divisas

Notas

* Relatório apresentado à Assembléia Geral da ONU em 1987, sobre o meio ambiente, também conhecido por relatório Brundtland, por ter sido presidido pela Primeira Ministra da Noruega Gro Harlem Brundtland.

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Um abraço e até o próximo post!

TURISMO NO ESPAÇO RURAL – PARTE FINAL TURISMO NO ESPAÇO RURAL – PARTE FINAL Reviewed by Luiz Macedo on fevereiro 01, 2010 Rating: 5

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