A NOVA TENDÊNCIA DO TURISMO CEARENSE

Beatriz Helena Oliveira de Mello Mattos*

Resumo

O trabalho faz uma análise sobre a atual política de desenvolvimento turístico no Estado do Ceará sobretudo o direcionado para a região do sertão através de um exercício de reflexão sobre os erros cometidos no passado recente da expansão turística na região litorânea.

Vista da praia em frente ao vilarejo de Jericoacoara – Ceará / Brasil

O texto conclui que incremento de uma política pública de desenvolvimento turístico para o sertão justifica um trabalho de estudo e pesquisa detalhados que permitam o estabelecimento de um banco de dados com o inventário dos recursos que subsidiem o planejamento e os planos de ação.

Introdução

A política de desenvolvimento turístico no Estado do Ceará vem ampliando seu campo de  atuação e investindo na criação de pólos turísticos na região do sertão. O Ceará não é só praia e litoral, e ampliar a atividade turística para esta área tem o objetivo de mostrar o conjunto de bens naturais e culturais do sertão, investindo no turismo cultural.

A ampliação desse pólo turístico coloca para reflexão alguns pontos fundamentais que possam viabilizar seu planejamento e sustentabilidade, visto que, nesta região existe uma oferta turística diferente da que possui o litoral. No sertão cearense contamos com vários sítios arqueológicos com expressiva presença de arte rupestre, uma cultura tradicional pouco estudada, uma biodiversidade pouco estudada e uma beleza natural pouco explorada do ponto de vista de recreação e de lazer.

No sertão cearense, paredões e monumentos de pedra se transformam em obstáculos para os amantes dos esportes radicais

O sertão é um dos ambientes que compõe o semi-árido e é a sua região mais quente. O semi-árido se caracteriza por apresentar temperaturas elevadas, altas taxas de evapotranspiração e irregularidade no seu regime de chuvas tanto a nível temporal quanto a nível espacial.

Seus solos são cristalinos e dificultam o armazenamento de água. Além de ser um ambiente com características singulares e única no mundo, vai ser também o que apresenta os piores indicadores de desenvolvimento humano do país. Assim, caracteriza-se por ser um ambiente frágil e de difícil recuperação que impõe sérias restrições para a elaboração de projeto de desenvolvimento que não tenha por base a sustentabilidade sob pena de agravar a aridez, a pobreza e a desigualdade social.    

Dificuldade do sertanejo no Ceara

Repercussões do Turismo no Litoral: Algumas Questões Para Pensar

Esta tendência tem um movimento sincrônico na medida em que acompanha a mudança de perfil do turista e da prática da atividade turística em termos globais, que progressivamente foge ao modelo convencional. Entretanto, como esta é ainda uma nova tendência no Ceará, faz-se necessário um exercício de reflexão sobre a expansão turística da região litorânea a fim de aprendermos com os erros cometidos no passado recente.

Nesse sentido as questões a serem colocadas para reflexão são:

  • Estamos preparados do ponto de vista governamental e empresarial para empreendermos um turismo que fuja ao modelo convencional do consumo de massa?
  • Estamos preparados do ponto de vista estatal e privado para atendermos às mudanças de atitude e de mentalidade que a sociedade exige hoje em relação ao papel desempenhado pelas empresas em relação à sua responsabilidade social?
  • Estamos preparados para adotarmos uma política pública de incremento a pólos turísticos ambientalmente sustentáveis, que considere a capacidade de recepção das comunidades locais desde a concepção dos projetos e que contemple o seu uso social?
  • Estamos preparados para nortear o planejamento da atividade turística a partir da vertente ecológica com uma estratégia diferenciada e uma proposta de convivência, visto que, esta envolve não só a preservação conjunta do patrimônio natural bem como do patrimônio cultural?

Somos capazes de promover um desenvolvimento pautado na sustentabilidade?

Assim colocado, o incremento de uma política pública de desenvolvimento turístico para o sertão justifica um trabalho de estudo e pesquisa detalhados que permitam o estabelecimento de um plano de gestão, um banco de dados e um inventário dos recursos ambientais, culturais e  socioeconômicos, que subsidiem o planejamento e os planos de ação. De modo a evitar que se repita nesta proposta de desenvolvimento a mesma irresponsabilidade ecológica que se observou e observa no processo de desenvolvimento turístico do litoral cearense.

No Brasil apenas a paisagem litorânea é um atrativo?

Planejamento Turístico, Sustentabilidade e Ações Locais: Uma Nova Mentalidade e Uma Nova Atitude 

O destaque para a vertente ambiental dentro dessa proposta se justifica porque há uma relação simbiótica entre a atividade turística e o meio ambiente, e este último fator é o elemento vital do produto turístico. Além disso, o turismo pode ser uma atividade altamente impactante e se associado ao desenvolvimento local, pode alterar de modo dramático os recursos naturais e culturais dos quais o turismo e a população local dependem.

Uma vez que, as principais causas de deterioração do ambiente  a nível mundial são os padrões insustentáveis de produção e de consumo que no contexto cearense ganha contornos dramáticos. No Ceará há um processo recente e intenso de degradação social e ambiental decorrente, em grande parte, do modelo de desenvolvimento econômico adotado pelo estado que tem na indústria e no turismo a sua âncora.

Além desse processo recente, historicamente, temos um outro de caráter tão irracional e imediatista quanto o modelo desenvolvimentista adotado pelo estado, ocasionado pela ocupação e uso do solo e dos recursos naturais que vem agravando o estado de aridez e de pobreza no sertão.

Desmatamento da caatinga no Ceara

Diante desse quadro, as ações e o planejamento desenvolvidos a partir desse fator devem ter uma visão da complexidade e interdisciplinaridade da atividade turística que possibilitem um campo de atuação mais amplo e desenvolvendo “ações nos meios de comunicação, nas escolas e nas comunidades que possam fomentar a educação ambiental, a conscientização e o respeito aos valores culturais que venham sensibilizar tanto a sociedade quanto as autoridades, visto que, a maioria das decisões necessárias são mais políticas do que econômicas” (Donaire, 2000).

Nesse sentido a conservação deste patrimônio depende da adoção da vertente ambiental como ponto de partida para o planejamento das atividades turísticas, evitando assim, como acontece hoje no litoral cearense, o consumo desregrado e insustentável do espaço sem que isso traga benefícios sociais para as comunidades locais.

Sustentabilidade a palavra de ordem

Uma outra questão a destacar, é o de refletirmos sobre até que ponto esse novo turismo pode influenciar na consolidação dessa nova mentalidade em relação ao turismo de modo que a ética e a responsabilidade social integrem a proposta.

As motivações e as temáticas se apresentam em novos termos valorizando o meio ambiente, as questões étnicas e as culturas tradicionais. Do mesmo modo há mudanças nas expectativas e no comportamento dos viajantes, que não se contentam mais com os roteiros clássicos e o consumo ostentatório dos lugares que conhece. Este modelo de turismo progressivamente entra em cena e aos poucos se consolida. 

Conclusão   

Enfim, há uma sinergia entre essa nova mentalidade do turismo, e a criação do pólo turístico para o sertão, no sentido de que a responsabilidade pela conservação e preservação do patrimônio cultural, histórico e natural começa no nível local. Mas hoje fica mais evidente o caráter abrangente dessa responsabilidade na qual a ética, o respeito pela biodiversidade e diversidade cultural, sejam o princípio norteador da atividade turística, e assim implementar um projeto para um turismo sustentável no sertão cearense que compreenda o seu uso social e uma estratégia diferenciada com o semi-árido.

Paisagem do sertão cearense

Notas

* Socióloga, Mestra em Educação Brasileira PUC-RJ, Especialista em Meio Ambiente ISER-RJ e Professora Adjunta do Instituto de Ensino Superior do Ceará  – IESC Representante Estadual da Rede de Educação do Semi-Árido Brasileiro - RESAB. 

Bibliografia 

AVIGHI, C. M. Turismo, Globalização e Cultura. In: Turismo: Teoria e Prática. Atlas Editora: São Paulo, 2000.

DONAIRE, D. Considerações Sobre a Variável Ecológica, as Organizações e o Turismo. In: Turismo: Teoria e Prática. Atlas Editora: São Paulo, 2000.

LIMA, Cruz Luiz.(Org.). Da cidade ao campo: a diversidade do saber-fazer turismo. Editora Funece: Fortaleza, 1998. 

LAGE, B. H. G. & MILONE, P. C. Impactos Socioeconômicos Globais do Turismo. In: Turismo: Teoria e Prática. Atlas Editora: São Paulo, 2000.

PIRES, M. J. Levantamento de Atrativos Históricos em turismo: uma proposta metodológica. In: Turismo: Teoria e Prática. Atlas Editora: São Paulo, 2000.

REJOWSKI, M. Turismo e Pesquisa Científica. Papirus Editora: São Paulo, 2000.

Um abraço e até o próximo post!

A NOVA TENDÊNCIA DO TURISMO CEARENSE A NOVA TENDÊNCIA DO TURISMO CEARENSE Reviewed by Luiz Macedo on fevereiro 04, 2010 Rating: 5

Um comentário:

  1. Valeu, vai servir direitinho pro meu dever de geografia do colégio.

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