TURISMO NO ESPAÇO RURAL – 1º PARTE

Luiz Almeida*

Introdução

Um dos aspectos mais significativos, que marca a atividade turística, é a mudança cultural identificada nos hábitos dos turistas contemporâneos. É importante salientar que esse processo tem-se intensificado com o advento da globalização, que fomenta, em grande medida, o surgimento de novas vertentes no turismo, do qual o turismo no espaço rural faz parte.
Atividades do turismo no espaço rural
O presente artigo pretende examinar em termos teóricos, os usos e definições do turismo no espaço rural, bem como possibilitar uma melhor compreensão do mesmo para o meio acadêmico.

Uso e Definições


Inicialmente, para abordar a temática do turismo rural, torna-se imperativo e crucial definir alguns conceitos, que após serem detalhados, lançará ao estudo um melhor entendimento acerca do tema, bem como subsidiará a interpretação inerente ao mesmo. Os conceitos centrais trabalhados serão aqueles que interligam o fenômeno do turismo, como por exemplo: a globalização, o consumidor turístico, bem como sua relação com o ambiente receptivo, os resultados das relações sociais e naturais intrínseco desse processo, o turismo no meio rural, suas práticas, usos e definições, o impacto na paisagem, e por fim o desenvolvimento sustentável como uma alternativa de geração e distribuição de renda e fixação do homem do campo no campo.
Segundo a Organização Mundial do Turismo:
O turismo compreende as atividades que realizam as pessoas durante suas viagens e estadas em lugares diferentes ao seu entorno habitual, por um período consecutivo inferior a um ano, com finalidade de lazer, negócios ou outras. (OMT, 2001, p. 38)
A EMBRATUR** (2007) por sua vez conceitua o turismo como uma atividade econômica caracterizada pelo conjunto de transações turísticas que envolvem a compra e venda de bens e serviços. O turismo também pode ser definido como sendo o ''complexo de atividades e serviços relacionados aos deslocamentos, transportes, alojamentos, alimentação, circulação de produtos típicos, atividades relacionadas aos movimentos culturais, visitas, lazer e entretenimento''. (ANDRADE, 2002, p. 38).

Viagem palavra chave na definição do Turismo
Porém, qualquer tentativa de definir turismo e descrever completamente sua abrangência deve levar em consideração os diferentes grupos que participam desse setor e que são afetados por ela. São características vitais para elaborar uma definição ampla:
    • Os turistas: que buscam experiências diversas, satisfações psíquicas e físicas, sendo que a natureza dessas demandas irá determinar as destinações escolhidas e as atividades desenvolvidas;
    • As empresas fornecedoras de bens e serviços: os empresários vêem o turismo como uma oportunidade para obter lucros ao fornecer os bens e serviços que o mercado turístico demanda;
    • Os governos das áreas: os políticos vêem o setor de turismo como um fator de geração de riquezas nas economias sob suas jurisdições;
    • As comunidades anfitriãs: a população local geralmente vê o turismo como um fator de geração de emprego e distribuição de renda, além de aspectos culturais. (GOELDNER, RITCHIE e MCINTOSH, 2002, p. 23).
Também, conforme afirmam Goeldner, Ritchie e McIntosh (2002), os componentes do setor de turismo subdividem-se em quatro, cada qual com variantes específicas, que são: Os recursos e o ambiente natural: é a dimensão mais fundamental do modelo, a base do turismo; O ambiente construído: inclui a cultura e tradições locais, a infra-estrutura, a superestrutura turística e, por fim, a tecnologia; Segmentos operacionais do setor turístico: representa o que de fato operacionaliza a atividade turística como os transportes, alimentação, entretenimento, além das agencias de viagens, serviços turísticos e dentre outros; Organizações catalisadoras, de planejamento, desenvolvimento e promoção: dividem-se entre os componentes dos setores privado e público.
A atividade turística se relaciona com diversos setores da economia
Além do mais é importante salientar que a atividade turística é algo que pode transformar os indivíduos, turistas e comunidade local, interferindo de forma positiva ou negativamente em suas vidas dependendo da forma que for viabilizado na localidade. É interessante observar que um dos elementos principais que sustentou o crescimento da atividade turística no globo, se dá pelo advento da globalização, que segundo Vizentini (2004, p. 13), “apoiado na revolução científico-tecnológica afetou profundamente a relação entre as nações”, dinamizando mercados e os tornando internacionais, sendo a competitividade sua força motriz.
Revolução nos meios de comunicação
A globalização é a grande era das mudanças que reflete em todos os aspectos de nossas vidas. Atualmente os indivíduos são movidos por paradigmas momentâneos, vontades e desejos voláteis, que alimentados pelas facilidades de transportes, que hoje estão mais rápidos e seguros, e das comunicações, que motivadas principalmente pela internet, possibilitam uma inesgotável fonte de informações, transformando, portanto, o mundo em uma aldeia global***. Portanto, Castells (1999, p. 149) conceitua o fenômeno da globalização como:
Um processo segundo o qual as atividades decisivas num âmbito de ação determinado (a economia, os meios de comunicação, a tecnologia, a gestão do ambiente e o crime organizado) funcionam como unidade em tempo real no conjunto do planeta. Trata-se de um processo historicamente novo (distinto da internacionalização e da existência de uma economia mundial) porque somente na última década se constituiu um sistema tecnológico (telecomunicações, sistemas de informação interativos e transporte de alta velocidade em âmbito mundial, para pessoas e mercadorias) que torna possível essa globalização.
A pós-modernidade introduziu, na sociedade, uma nova perspectiva acerca do tempo e espaço. Castelli (2001, p. 31) afirma que “a civilização industrial atribui ao tempo um valor singular”, ou seja, tempo é dinheiro, e também diz que “as inúmeras atividades diárias absorveram de tal maneira o homem, hoje em dia, que este já não tem tempo para nada”. Tal processo imprimiu no tempo livre do homem pós-moderno, um elevado valor e conseqüentemente, o transformou em um bem extremamente apreciado e desejado.
O ritmo do dia a dia do homem contemporâneo eleva o grau de stress
O simples desejo de viajar, ou a efetivação da mesma, existente no âmago dos turistas contemporâneos, tornou-se acentuado, em grande parte, devido à caótica configuração espacial atual, que com o advento da globalização, colocou em marcha novos processos de produção e ordenação populacional. Além do mais, a excessiva concentração urbana passa a constituir um sério problema para seus habitantes. Sendo as populações seriamente ameaçadas e afetadas pela poluição sonora, do ar, das águas, além de outras anomalias existentes em nossas grandes urbes (CASTELLI, 2001).
Castelli (2001, p. 32) afirma que “à medida que o homem passa a viver nas cidades densamente povoadas, mais, ele se ressente da necessidade de um tempo livre para pôr seu corpo e sua mente novamente em ordem”, sendo a atividade turística, uma das possibilidades existentes, que figuram como verdadeiras “válvulas de escape”, para essa crescente urbanização e industrialização.
Uso recreativo do tempo livre
É fato que o fenômeno da globalização modificou também a relação dos turistas com a atividade, fazendo emergir o turista contemporâneo. Swarbrooke e Horner (2002) afirmam que os consumidores estão manifestando diferentes padrões de comportamento, onde a busca por novas experiências é a principal característica. O novo turista deseja se afastar dos destinos tradicionais oferecidos pelo mercado e quer, cada vez mais, sentir novas experiências, de menor escala e de contato mais direto e voraz com as realidades locais.
Há evidências que uma abordagem de mercado de massa e padronizado do turismo se tornará cada vez mais desatualizada nos próximos anos. O turista pós-modernista pedirá uma abordagem mais individualizada, com maior variedade e qualidade. (SWARBROOKE e HORNER, 2002, p. 287).
Segmentação de mercado
Porém, a busca por novas sensações e emoções não ocorre por acaso, atualmente os turistas procuram experimentar e viver novas experiências, precisam se deparar com diferentes realidades, conhecer novas formas de vida, novos povos e culturas, “descobrir” um mundo diferente daquele em que é forçado a viver. Bauman (1998) menciona que os turistas iniciam suas viagens por escolha, ou pelo menos assim eles pensam, sendo que em grande parte dos casos os turistas,
partem porque acham o lar maçante ou não suficientemente atrativo, demasiadamente familiar e contendo demasiadamente poucas surpresas, ou porque esperam encontrar em outro lugar uma aventura mais excitante e sensações mais intensas do que a rotina doméstica jamais é capaz de transmitir. (BAUMAN, 1998, p. 116).
Esse panorama elucida o perfil que o turista contemporâneo possui na sociedade, abordando aspectos como a busca, por novas emoções bem como a fuga da realidade, que é presente e acentuada no “lar maçante”. Aponta também a característica volátil que possui esse turista, que movido por “novas oportunidades” se desinteressa completamente pelo destino turístico de outrora. O turista contemporâneo busca o novo e necessita, acima de tudo, de práticas de qualidade oferecidas de forma integral e imparcial. Vale ressaltar também que o novo consumidor do turismo tem dúvidas sobre produtos superficiais, ou voltados para o turismo de massa, como já foi relatado anteriormente.
Turismo Rural proporcionando novas experiências
Com o advento da globalização e a configuração de um novo turista, emerge no contexto mundial, e recentemente no brasileiro, um importante segmento turístico praticado no espaço rural. Barreto (2000) salienta como uma das tendências atuais o retorno do hotel familiar, a pousada e os refúgios em lugares distantes dos grandes centros, onde é valorizada a convivência com os proprietários e participação no dia-a-dia da vida no campo. Esta tentativa atual de valorização no meio natural faz com que os tipos de turismo voltados para a natureza constituam as formas mais promissoras desta atividade, incluindo o turismo em áreas rurais. A vertente do turismo rural possui algumas especificidades que serão descritas e conceituadas em postagens futuras, ocasionando assim um melhor e mais adequado entendimento sobre a temática do presente estudo.

Notas

* Bacharel em Turismo pelo Centro Universitário Newton Paiva / MG (luizmacedo01@yahoo.com.br)
** EMBRATUR – Instituição pública que tem por finalidade cuidar exclusivamente da promoção do Brasil no exterior.
*** Termo criado pelo sociólogo canadense Marshall McLuhan, nos anos 60, que defini “aldeia global” simplesmente como sendo o progresso tecnológico que está reduzindo todo o planeta à mesma situação que ocorre em uma aldeia. (MCLUHAN, 1972).
**** Relatório apresentado à Assembléia Geral da ONU em 1987, sobre o meio ambiente, também conhecido por relatório Brundtland, por ter sido presidido pela Primeira Ministra da Noruega Gro Harlem Brundtland.
Um abraço e até o próximo post!
TURISMO NO ESPAÇO RURAL – 1º PARTE TURISMO NO ESPAÇO RURAL – 1º PARTE Reviewed by Luiz Macedo on janeiro 28, 2010 Rating: 5

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